Startups SaaS vivem sob uma promessa constante de crescimento. Mas à medida que escalam, muitos gestores ainda olham apenas para o faturamento e deixam de lado a parte mais crítica: a estrutura financeira que sustenta esse crescimento.
Neste artigo, vamos explorar porque a margem bruta é um dos indicadores que toda empresa SaaS deve acompanhar para entender se está crescendo de forma saudável — ou apenas inflando números que podem estourar mais à frente.
Antes de falarmos sobre a margem, vale lembrarmos a fórmula para calculá-la:
Margem Bruta = (Receita Líquida/Lucro Bruto) x 100, onde:
Lucro Bruto = Receita Líquida (vendas – deduções) – Custos
Agora, vamos explorar os componentes da margem bruta de uma empresa SaaS:
Receita Recorrente Mensal (MRR) e Receita Recorrente Anual (ARR)
Aqui vale destacar um ponto essencial:nem toda receita é igual. É fundamental entender as diferentes fontes de receita e classificá-las corretamente para termos análises mais precisas.
Quanto mais previsível, recorrente e vinculada ao uso contínuo do cliente for a receita, mais saudável será a base do negócio.
MRR está no topo dessa hierarquia.
A MRR (Receita Recorrente Mensal) é o coração de qualquer negócio SaaS. Representa o valor previsível de receita gerada mensalmente com base nas assinaturas ativas.
- Por que importa: é o indicador básico da tração da empresa
- Como calcular: soma de todas as receitas mensais contratadas
- Dica prática: acompanhe MRR nova, expansão, contração e churn separadamente
Ele é fundamental para planejar crescimento, avaliar saúde financeira e atrair investidores. Veja como calculá-lo:
Fórmula Básica do MRR
MRR=∑(Número de Clientes por Plano × Valor Mensal do Plano)
Exemplo Prático:
- Plano Básico: 100 clientes × R$99/mês=R$ 9.900
- Plano Premium: 50 clientes × R$299/mês=R$ 14.950
- Plano Enterprise: 20 clientes × R$999/mês=R$ 19.980
MRR Total: R$9.900+R$ 14.950 + R$19.980=R$ 44.830/mês
Mas o negócio pode ficar um pouquinho mais complexo para os financeiros. Imagine que no mês sua empresa pode ter vendido mais que o previsto de um plano (upsell), menos que o previsto de outro (downsell) e teve cancelamentos (churn).
Em resumo, o MRR não é estático. Ele deve ser atualizado mensalmente com base em:
Expansões (Upsell):
- Exemplo: Um cliente migra do Plano Básico (R$99)para o Premium (R$ 299).
- Impacto: +R$ 200 no MRR.
Reduções (Downsell):
- Exemplo: Um cliente migra do Premium (R$299)para o Básico (R$ 99).
- Impacto: -R$ 200 no MRR.
Cancelamentos (Churn):
- Exemplo: 5 clientes cancelam o Plano Básico (R$ 99 cada).
- Impacto: -R$ 495 no MRR.
ARR (Receita Recorrente Anual)
Já a ARR é simplesmente a multiplicação da MRR por 12. Não confunda os planos de pagamentos anuais (efeito caixa) que são “quebrados” em parcelas mensais.
Embora pareça redundante, a ARR costuma ser usada em projeções de longo prazo e para avaliação de valuation e crescimento anualizado.
- Por que importa: é uma métrica mais estável para análise de valuation e planejamento estratégico
- Como calcular: MRR × 12
- Dica prática: use ARR para simulações de crescimento e previsibilidade de faturamento futuro
Essa distinção faz parte da hierarquia de receitas: quanto mais recorrente e previsível, maior o valor percebido do negócio e maior a necessidade de controle preciso desses números. Exemplificando:
MRR vs. ARR: Qual a Diferença?
- MRR: Receita mensal recorrente (ex.: R$ 44.830/mês).
- ARR (Annual Recurring Revenue): MRR projetado para um ano. ARR=MRR×12
- No exemplo acima: R$ 44.830×12=R$ 537.960/ano
Ainda temos mais alguns complicadores para o acompanhamento das vendas, mas que tem impacto no caixa e não na receita:
- Formas de Pagamento: Boletos têm maior risco de inadimplência pagamentos via cartão tem as taxas de interveniência para ficar apenas nelas
- Planos Anuais Pagos Mensalmente: reconhecimento mensal da receita e é necessário ter regras claras de devolução em caso de cancelamento
- Períodos de Trial: clientes em trial gratuito (ex.: 7 dias) só entram no MRR após a ativação da assinatura recorrente.
Temos ainda outros componentes de receita e indicadores que devem ser analisados em conjunto, mas neste artigo vamos analisar a Margem Bruta. Abaixo alguns exemplos:
- Retenção Bruta de Receita (GRR)
- Retenção Líquida de Receita (NRR)
- Receita Anual Recorrente Contratada (CARR)
- Taxa de Renovação
- Receita Média por Cliente (ARPU)
- Índice de Cancelamento (Churn Rate)
Custo dos Produtos ou Serviço Vendidos
A segregação correta entre custos e despesas é um dos maiores desafios para uma análise correta e confiável da margem bruta. Ainda dentro de custos podemos ter infindáveis subdivisões, mas neste caso o importante é que os gastos estão corretamente alocados em custos.
Estamos falando de custos e margem bruta para empresas SaaS, mas na prática estes conceitos, regras e análises servem para qualquer tipo de empresa, seja serviços, varejo ou indústria. É claro que em maior ou menor complexidade de regras e necessidade de alocações.
Voltando ao nosso modelo SaaS, dentro de custos podemos ter:
- Infraestrutura técnica: servidores, nuvem, APIs, banco de dados
- Suporte técnico ao cliente: equipe de atendimento e ferramentas relacionadas
- Licenças de software usadas na entrega: ex: plataformas de videoconferência, analytics, etc.
- Equipe técnica alocada diretamente na operação
Como comentei, a estrutura de custos deve refletir a realidade e complexidade do negócio. A estrutura acima é um exemplo genérico para o contexto deste artigo.
Margem Bruta
Nem toda receita é igual e nem todo custo é visível à primeira vista. A margem bruta é um dos indicadores mais importantes para empresas SaaS, pois mostra quanto da receita recorrente realmente sobra após os custos diretos de entrega do serviço.
Recapitulando:
Componentes de Receita:
- Assinaturas recorrentes: núcleo da receita SaaS (MRR/ARR)
- Serviços adicionais: setup, onboarding, treinamentos, consultorias
- Receitas não recorrentes: upsell pontual, projetos sob demanda, etc.
Nem todas essas receitas são igualmente valorizadas quanto mais previsível e escalável, maior o valor percebido.
Componentes de Custo (COGS – Cost of Goods Sold):
- Infraestrutura técnica: servidores, nuvem, APIs, banco de dados
- Suporte técnico ao cliente: equipe de atendimento e ferramentas relacionadas
- Licenças de software usadas na entrega: ex: plataformas de videoconferência, analytics, etc.
- Equipe técnica alocada diretamente na operação
Quanto mais baixo o COGS, maior a margem bruta mas atenção: cortar demais pode prejudicar a experiência do cliente.
- Por que importa: define o quanto realmente sobra da receita após a cobertura de todos os custos da operação para cobrir as demais despesas do negócio e gerar lucro
Regra dos 40% (adaptada à realidade brasileira)
A Regra dos 40 (ou Rule of 40) é uma métrica globalmente reconhecida no ecossistema SaaS, mas sua aplicação no Brasil ainda é emergente, com adaptações às particularidades locais.
A regra estabelece que a soma da taxa de crescimento anual da receita e da margem de lucro (geralmente EBITDA) deve ser igual ou superior a 40%.
Regra dos 40=40 Crescimento da Receita (%) + Margem de Lucro (%) ≥ 40%
Exemplo:
Crescimento de 35% + Margem de 5% = 40% (atinge a regra).
Trouxe a regra dos 40 neste artigo apenas a título de curiosidade já que uma das métricas é o EBTIDA e discutimos até a margem bruta. Como todas as métricas deve ser analisada em conjunto com outros indicadores do negócio.
O importante é que a lógica continua válida: crescer com margem é mais sustentável do que crescer a qualquer custo.
Para concluir, esses indicadores funcionam como um painel de bordo financeiro para empresas SaaS. Eles não servem apenas para investidores: são fundamentais para os próprios fundadores e gestores entenderem o ritmo, a eficiência e os riscos do negócio.
Na Parte 2, vamos falar sobre os riscos de crescer sem margem e como isso pode levar uma startup à estagnação ou à quebra, mesmo com o faturamento aumentando.
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Se você tem dúvidas sobre como estruturar sua operação financeira para acompanhar esses indicadores ou sente que sua margem bruta não está refletindo o crescimento da sua receita, podemos te ajudar.
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Este conteúdo foi desenvolvido pela equipe da Youve Digital, especialista em soluções contábeis e financeiras para empresas que buscam crescimento com segurança, previsibilidade e rentabilidade.